segunda-feira, 23 de junho de 2008

BR-29(364) história. Parte 6


A 1ª Fase da BR-29.

Determinada sua construção, foram selecionadas as seguintes empresas para executá-la, e designados os trechos em que cada uma atuaria:

Para os trabalhos de desmatamento, as empreiteiras deste trecho constituíram nova empresa, a Administradora Porto Velho, liderada pela CIB, que foi a responsável por esse serviço.


1 - A saúde. Temiam-se a malária e outras doenças tropicais, os grandes fantasmas da E.F.M.M. Foi então criado um serviço de saúde chefiado pelo Dr. Armando Leite, depois deputado federal pelo Acre. Profilaticamente, todo o pessoal empregado foi vacinado no momento do desembarque, de navio ou avião, contra febre amarela, varíola e tifo. Postos de saúde, com seus respectivos residentes, foram instalados em:
a) Porto Velho - Dr. Ary Tupinambá Pinheiro.
b) Nova Vida - Dr. Carlos Alberto Magalhães.
c) Vila Rondônia (atual Ji Paraná)- Dr. Jorge Martins Moura.
d) Vilhena - Dr. Leônidas Rachid.
Criaram-se também 12 (doze) turmas volantes de enfermagem, para atendimento de campo.

2 - A segurança. Receava-se que a chegada de milhares de homens, contratados em todo o país numa seleção apressada, trouxesse graves problemas policiais. O território dispunha de pequena polícia civil e guarda territorial, incapaz de atender a demanda extra. Assim, ainda que reconhecidamente ilegal, foi constituída uma força policial própria com 28 (vinte e oito) homens selecionados entre os trabalhadores, para garantir a segurança nas frentes. Não foram registrados incidentes graves envolvendo a polícia improvisada.


Na fase final, quando as dificuldades financeiras e as chuvas haviam praticamente paralisado as obras, um novo grupo destemido, incentivado pelo Governador Paulo Leal, realizou a proeza que permitiu caracterizar a estrada como ABERTA, portanto, irreversível. Uma caravana de 7 caminhões e 1 jeep saiu de São Paulo em 28/out/60 e, seguindo pelo leito recém aberto da BR-29, chegou festivamente a Porto Velho na noite de 28/dez/60, 60 dias depois. Diferentemente da viagem do Bandeirante de um ano antes, nesta não houve trecho fluvial nem ferroviário, os veículos "rodaram" o tempo todo (mesmo que arrastados). Naquele momento, cerca de 100 km dentro de Rondônia, na região arenosa de Pimenta Bueno, eram nada mais que uma simples trilha, sómente transponível graças ao apoio especial dado pelas empreiteiras, que destinaram inclusive tratores especificamente para garantir a passagem do comboio.

Repito aqui palavras do Coronel Paulo Leal: "em toda a história rodoviária brasileira foi (a construção da BR-29) o mais empolgante e o maior dos feitos. E não tenho notícia de nenhum outro que o tenha igualado em qualquer parte do mundo".

Ora! 11(onze) meses antes não haviam sequer estudos para sua execução, e nem se cogitava realizá-los. A planície amazônica tinha guardadas muitas surpresas para os construtores, uma delas, o grande volume de movimento de terras em cortes e aterros, insperados numa planície.

Nos 3 (tres) primeiros meses após a decisão presidencial, lutou-se para vencer dificuldades legais, burocráticas, administrativas, e a má vontade de muitos. Contratou-se um enorme contingente humano e deslocou-se um enorme conjunto de máquinas pesadas, transportando-os até onde ainda não se podia chegar. Segundo Paulo Leal, havia quem perguntasse "a que planeta pertencia Porto Velho ?", ou que afirmasse que Rio Branco ficava "a cinco minutos do por-do-sol". Eram os incrédulos de carteirinha, parodiando Nelson Rodrigues.

Nos oito meses restantes, do Rio Juruena(MT) a Rio Branco (AC), abriram-se cerca de 1.300 km de novos caminhos; foram desmatados mais de 700 km, com 60m de largura, na Floresta Amazônica virgem; escavados mais de 6 milhões de metros cúbicos de terra; implantados cerca de mil bueiros; construídas dezenas de pontes de madeira; etc..., etc...

O feito é gigantesco!


Era o seguinte, o desenvolvimento da ligação Brasília-Acre:

BR-14Brasília - Anápolis140 km
Anápolis - Goiânia60 km
BR-19Goiânia - EntroncamentoBR-31313 km
BR-31Entroncamento BR-19 - Cuiabá775 km
BR-29Cuiabá - Rio Juruena543 km
Rio Juruena - Vilhena277 km
Vilhena - Porto Velho687 km
Porto Velho - Abunã (*)220 km
Abunã - Rio Branco291 km
TotalBrasília - Rio Branco3.306 km

(*) Esse trecho era percorrido usando-se a histórica Estrada de Ferro Madeira Mamoré.

Este é um pequeno resumo dos "11 meses que abalaram Rondônia". Depois deles esta terra nunca mais foi a mesma. Por vezes, ao longo de quase duas décadas, a estrada fechava. Intransitável no longo período das pesadas chuvas que caem sobre a região de novembro a abril. Atoleiros e areais imensos retinham por semanas os caminhoneiros que insistiam, nunca desistiam, e, tão logo o sol forte e abrasivo trazia as nuvens quase inpenetráveis de poeira no leito de barro, lá estavam novamente rodando.

Apenas em 1983/84 a BR-364 (ex BR-29) foi asfaltada. Mas essa já é outra história, uma outra fase na vida de Rondônia e seu povo.

1 comentários:

Anônimo disse...

Eae gostaria de saber se está interessado em parceria.

Caso seja de seu interesse envie sua resposta por e-mail.

fringeinfringe@yahoo.com.br
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abraços.