sábado, 31 de maio de 2008

O Real Forte do Príncipe da Beira.

O Real Forte do Príncipe da Beira, na margem direita do rio Guaporé, fronteira natural entre o Brasil e a Bolívia, é o mais antigo monumento histórico de Rondônia. Sua construção foi iniciada em 2 de junho de 1776 pelo engenheiro Domingos Samboceti, que faleceu de malária durante a obra; e concluída em 20 de agosto de 1783 pelo capitão engenheiro Ricardo Franco de Almeida e Serra.

Sua construção teve o objetivo de consolidar a posse da coroa portuguêsa sobre as terras à margem direita dos rios Guaporé e Mamoré, no extremo noroeste do Brasil. Localiza-se há mais de 3.000km do litoral, em ponto ainda hoje de difícil acesso, e em pleno coração da grande floresta Amazônica. Suas coordenadas geográficas são: 12° 25' 47'' de latitude sul, 21° 17' 20'' de longitude oeste, e a altitude 220m.

Ao início da obra, disse dela o Governador da Província de Mato Grosso Luis Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, em junho de 1776: " A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um forte, e isso é obra e serviço dos homens de El-Rei, nosso Senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalho que dê,... é serviço de Portugal. E tem de se cumprir. "

A ata da cerimônia de lançamento consagra os quatro baluartes que teria a fortificação a Nossa Senhora da Conceição e Santa Bárbara, adjacentes ao rio; a Santo Antonio de Pádua e Santo André Avelino, os que corresponderiam aos anteriores, nesta ordem, voltados para a floresta.

O Forte é um quadrado com 970m de perímetro, muralhas de 10m de altura e seus quatro baluartes são armados, cada um, com quatorze canhoneiras, construído de acordo com o sistema Vaubam. No entorno, um profundo fosso somente permitia ingresso através de ponte elevadiça que conduzia a um portão com 3m de altura, aberto na muralha norte. No interior haviam quatorze residências para o comandante e os oficiais, além de capela, armazém e depósitos.

Uma lápide à entrada do Forte diz, em latim:
"Sendo José I, Rei fidelíssimo de Portugal e do Brasil, Luis Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, por escolha da Majestade Real, Governador e Capitão Geral desta vastíssima Província de Mato Grosso, planejou para ser construída a sólida fundação desta fortaleza com o Augustíssimo nome do Príncipe da Beira com o consentimento daquele Rei fidelíssimo e colocou a primeira pedra no dia 20 de junho do ano de Cristo de 1776. ...".

Apenas para deixar evidente os imensos sacrifícios exigidos para sua construção: quatro de seus canhões, de bronze e calibre 24, enviados de Belém do Pará em 1825, através do rio Tapajós, levaram cinco anos para alcançar seu destino.
O Forte dista 375km da cidade de Guajará Mirim, e 1.145km, em linha reta, de Manaus.

Foi abandonado em 1889, já na República, e permaneceu em absoluto abandono cerca de 40 anos, sendo saqueado e invadido pela floresta. Em 1914 foi reencontrado pelo então Major Rondon, que retornou em 1930 e construiu as instalações da unidade militar que acantonou ao lado das ruínas.

Na masmorra sombria do velho Forte, com janelas de grossas grades, e argolas cravadas na parede, ainda se lê, gravadas nas paredes (respeitando a ortografia dos autores):

  • No dia 18 de Set. pelas 2 da tarde tremeo a terra 1852.

  • A Deus ingrata prizão
    De ti me despesso obriozo
    Tendo suportado gostozo
    Em ti a mais dura aflição (ass Juvino)

  • "Nesta triste e Horrorosa prisão
    Vive o pobre e Enfeliz Pacheco
    Com groça e comprida corrente ao pescoço.
    Mato Groço me prendeo
    A Fortaleza me cativou
    Preso e cativo estou
    De quem tanto me favoreceo
    Grande satisfação tevi
    Quando em liberdade
    Agradecer a boa vontade
    Com que alguns senhores
    Me fazem seus favores
    Nesta minha advercidade
    Neste desterro desgraçado
    Em que a çorte me lançou
    muito agradecido estou
    a tropa e o povo honrado
    agradecido e obrigado
    as esmolas que me teem feito
    Capitão Cunha em meu peito
    o teu nome tenho gravado
    e nele conservado
    ca ahonde do Brasil
    o reino principia
    provincia de Mato Groço
    assim chamada
    nesta abobada imunda inabitada
    noite e dia
    com groça e comprida
    corrente fria
    tem seu colar
    no pescoço pendurada
    com dois mantos
    escolhidos e emprestados
    pelos maiores
    quena terra havia"
    (obs: nada se sabe da sorte do infeliz Pacheco)

O Forte foi tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 30 / Nov / 1937.

0 comentários: